quarta-feira, 10 de junho de 2020

Sobre a luta por igualdade de direitos entre sexos. Recentemente ouvi dizer - e os exemplos que vivo convergem a este mesmo ponto - que o feminismo é como uma teia de aranha; basta-se um resvalo sequer, que se situe contrário a seus ideais, e adeus identidade: és homem, macho, patriarca, opressor e p(r)onto. Sabe-se que os fios destas teias são usados para formar estruturas e desenhos diferentes, o que varia também em função da finalidade da construção. A viúva-negra, a título de exemplo, faz um desenho completamente irregular, que nada lembra a precisão geométrica de algumas teias. Tomemos esta espécime como exemplo. Se trazida ao âmbito político, a estrutura denotaria problemas de organização, e, aqui, problemas de organização no movimento, apesar de que, neste sentido, ela indique uma característica específica da espécie. Mas, então, qual a finalidade da construção desta teia a qual fazemos todos parte? Imaginemos pois que a teia se distribui por toda cidade. E o sentido que damos aqui a ela é justamente o sentido de organização política e poder de alcance. Assim, os fios da teia, retilíneos e espessos, alastram-se e se apoderam em parte dos espaços nos quais fazem-se presentes. E quando uma ação (refletida ou não) pende de encontro a sua estrutura temos, quase que imediatamente, a impossibilidade de defesa: estamos já presos e julgados, pelo simples fato de penetrarmos (conscientes ou não) em seus domínios. É preciso que se tenha cuidado. Um olhar, uma expressão, um modo de dizer, um posicionamento. Tudo meticulosamente pensado e calculado para não parecer demasiado opressor. Reavaliação de discurso é ótima, mas pera lá, todos somos machistas, opressores, patriarcais? Sim, somos homens, mas, antes disso, somos seres humanos. E como seres humanos resultantes em grande parte de uma formação cultural específica, devemos ter em mente os funcionalismos e discursos que nos são engendrado desde a mais tenra idade e -para além disso- esforçar-se por compreender que nem todos possuem as condições de possibilidade de reavaliação desse discurso. Compreensão, não justificação. A evidência que se tem dado ao movimento é essencial. A luta é necessária. É preciso, de fato, combater o patriarcado. Mas a que custo? Por quais meios? Discursos de ódio impressos pela cidade? Rudes generalizações..Não consigo ver este tipo de ação como uma luta política por igualdade de direitos, tampouco consigo imaginar bons frutos resultantes dessas práticas. Se formos combater opressão com opressão, entramos num ciclo-vicioso nocivo e irrefletido, que acaba por alimentar a incontestável desigualdade presente em nossas relações sociais. Pende aqui minha consideração e apelo: lutemos. Mas lutemos juntos. Precisamente juntos, desfazendo este separatismo milenar, mitigando esta opressão histórica que -ainda que alguns não concordem- não é saudável à ninguém.

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