quarta-feira, 10 de junho de 2020

A que chamamos Morte

Hoje me vi embevecido de poesia
e se eu me dispusesse a escrever um texto
certamente sairia um poema:
porque há coisas que existem em mim
que não me foram planejadas.

Aliás, muitas das coisas que existem
já existiam antes de tudo
e diante desse tudo, eu, pequeno, penso nelas
como uma criança pensa em seu aniversário.

Eu gostaria as vezes de tratar das coisas
como tratava antigamente, antes de pensar em tratá-las
era tão natural, apenas ser, e as coisas passavam por mim
e não havia angústia ou ansiedade
ou até mesmo o medo de que os planos dessem errado
esse medo que nos acompanha no dia-a-dia, sabe?
ele, não havia.

Ainda hoje vejo
brincando, naturalmente, sem nenhum rancor
parte daquele que sou, na imagem da criança que fui
e diante do espelho
o traço do tempo confere completude a imagem:
Envelheci. E diante disso, lá atrás
(atrás do espelho, atrás de mim)
existe uma força oculta
grandiosa
insolúvel
a que chamamos
Morte.

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