As vezes existe apenas a espera.
E da espera inferimos o corte.
Preciso, etéreo, imaginário.
O corte que sangra mas não mancha.
A mancha que escorre mas não pinga.
A gota que cai mas não absorve.
Pendemos, então
através do que criamos e do que se consome
malabaristas manejando intentos
corações machucados passeando
pela calda das constelações
E assim nos protegemos
no abrigo de outros corpos buscando aquele corpo
envoltos, como um caracol, pela casca da resiliência
suportamos a pressão, como uma ostra
e geramos uma pérola em nosso ventre machucado
A poesia urge como um grito mudo
do fundo de nossas entranhas, desacreditadas
e pela palavra projeta-se luz
nossos dias enfim tornam-se mais claros
As vezes existe apenas a espera.
E não há muito o que fazer senão abraçá-la
amá-la, contemplá-la, até que não se faça mais
Até que a espera se torne vontade
e a vontade, antes escrava da posse
torne-se Amor.
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