terça-feira, 28 de setembro de 2021

28 09

 A singularidade de nossas experiências marcam com clareza o abismo que existe entre o pensar e o falar.

Enquanto falo, falsifico o que é; enquanto calo, verifico o que está.

Então reside aqui, no poema, o verdadeiro acesso ao que é.

A tarefa é a de saber quando falar e quando calar. Quando ouvir é mais importante que dizer.

Tornar-se "Homem" significa tornar-se capaz de decidir sobre o próprio destino.

É a maioridade Kantiana. A saída do homem de sua menoridade, da qual ele mesmo é responsável.

E como realizar esse movimento sem que antes abandonemos o que nos torna infantis?

O abandono pressupõe a aquisição de novos hábitos, novas histórias capazes de criar outros destinos.

Na senda do destino, é preciso acreditar que apesar da tortuosidade de nosso caminho ele é o nosso caminho. 

Que é precisamente por ser nosso que devemos segui-lo com felicidade.

Aceitar nosso destino.

Aceitar as dores do tempo. Do crescimento, dos processos. Afinal, a vida sempre foi a mesma, somos nós quem mudamos.

A todo tempo mudamos, e o forma que assumimos no decorrer do tempo são o reflexo daquilo que fazemos no agora.






sexta-feira, 10 de setembro de 2021

28 de março de 2020

O bem mais precioso que possuímos é a vida. A verdadeira face do Covid-19 revela-se: são inúmeros países infectados em uma velocidade assombrosa, medidas de contenção do vírus antecipadamente instauradas e medidas de assistência à população, sobretudo aos trabalhadores autônomos e informais, decretadas. No Brasil, estamos caminhando contra a maré de uma lógica selvagem, defendendo (por incrível que pareça) o óbvio, a fim de resguardar a saúde e o bem-estar daqueles que amamos e dependemos. Isso tudo porque não temos uma liderança. O que temos, senhores, é um apelo ao caos. Não percebem que negar o vírus é fomentar seu crescimento? Não percebem que os discursos de nosso presidente servirão para intensificar o número de infectados? A economia vai sofrer com a crise. É inevitável. Mas escolher se ela vai levar (além de sua renda mensal) um de seus familiares, cabe a você.


Quanto vale o seu dinheiro quando o sistema de saúde colapsar pela falta de leitos e equipamentos, quando aqueles que você ama derem o último suspiro rouco, agonizante, abafado? Perceberá então que "a gripezinha" se tornou sua prioridade, e que a vida dos que você ama nada valem se eles não estiverem mais entre nós.

A arte como sublimação

 

Wittgenstein também leu Schopenhauer

Wittgenstein assume, com relação a (im)possibilidade da coisa-em-si (noumenon) ser objeto de conhecimento científico: 'I am aware of the complete unclarity of all these sentences' p.25. (...) ‘There are, indeed, things that cannot be put into words. They make themselves manifest. They are what is mystical¹.’ p.26

O curioso é que o filósofo austríaco adota, em referência ao assunto, a frase Latina usada por Espinosa: 'sup specie aertenitatis²'

Mais curioso ainda é notar que o 'cavaleiro solitário' havia, anos antes, aludido à  mesma frase, em sentido semelhante: "Também nela pensava Espinosa ao escrever: mens aeterna est, quatenus res sub aeternitatis specie concipit³' (Ética V, prop. 31, schol.) (Mundo como Vontade e Representação, Cap. III, p.30.)

Para ambos os autores é possível, a partir da contemplação artística, intuir a essência das coisas, i.e, as ideias eternas, mediante o esquecimento de si, o 'sublimar-se' a si mesmo como indivíduo.

O 'homem dos evangelhos' e o 'cavaleiro solitário', com divergências marcantes em seu pensamento e vida, chegaram às mesmas conclusões em suas investigações ontológicas: o prazer estético, que corresponde ao conhecimento intuitivo, transcende, i.e, se situa além dos limites do conhecimento científico; enquanto atemporal, por isso mesmo eterno, liberto de todas as relações fenomênicas que regem o mundo natural, ele é capaz de contemplar os objetos 'sup species aeternitatis'; por outro lado, a percepção a serviço da utilidade, revestida sob o manto da razão e da ciência, é, necessariamente, temporal, inevitavelmente agrilhoada aos objetos e suas relações.

¹ Eu estou ciente da completa falta de clareza de todas essas sentenças. Existem, de fato, coisas que não podem ser postas em palavras. Elas fazem a si mesmas manifestas. Elas são o que é místico.

² Sob a forma da eternidade.

³ O espírito é eterno enquanto apreende as coisas do ponto de vista da eternidade.

segunda-feira, 23 de agosto de 2021

"Introdução à Metafísica", M. Heidegger, 1935

''Quando o recanto mais remoto do globo tiver sido conquistado pela técnica e explorado pela economia, quando um qualquer acontecimento se tiver tornado acessível em qualquer lugar a qualquer hora e com uma rapidez qualquer, quando se puder “viver” simultaneamente um atentado a um rei na França e um concerto sinfônico em Tóquio, quando o tempo for apenas rapidez, momentaneidade e simultaneidade e o tempo enquanto História tiver de todo desaparecido da existência de todos os povos, quando o pugilista for considerado o grande homem de um povo, quando os milhões de manifestantes constituírem um triunfo – então, mesmo então continuará a pairar e estender-se, como um fantasma sobre toda esta maldição, a questão: para quê? – para onde? – e depois, o que? O declínio espiritual da terra está tão avançado que os povos ameaçam perder a sua última força espiritual que [no que concerne o destino do “Ser”] permite sequer ver e avaliar o declínio como tal. Esta simples constatação nada tem a ver com um pessimismo cultural, nem tão-pouco, como é óbvio, com um otimismo; pois o obscurecimento do mundo, a fuga dos deuses, a destruição da terra, a massificação do homem, a suspeita odienta contra tudo que é criador e livre, atingiu, em toda a terra, proporções tais que categorias tão infantis como pessimismo e otimismo já há muito se tornaram ridículas''


segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Tudo ao redor pulsa

 Tudo ao redor pulsa

o ponto, a linha, a curva
os trajes, o pó, a bagunça
a ordem, a pia, um vaso de flor qualquer...
é necessário calma
observar além
compreender que o Todo
é incompreensível
as partes, no entanto
compõem frases inaudíveis
de um Nada
que é Tudo.
Então, aceitar
transmutar
desvelar
nos sonhos
vosso misterioso conhecimento do além

domingo, 24 de janeiro de 2021

Uma estrelinha chamada Rata

No céu hoje nasce uma estrela.
Pequena, como o corpo que habitava.
pequena...no entanto luminosa!
a mais luminosa do céu de Pelotas.
Seu nome: Rata, vulgo ratinha, a cadelinha mimosa.
Apesar do tamanho, tinha personalidade forte e enfrentava quem quer que fôsse!
quando ainda criança, foi difícil para Rata desenvolver-se.
Seus irmãos roubavam-lhe a comida. Mas ela se adaptou, tal qual todo bom sobrevivente.
depois de um tempo, na hora do rancho, ai de quem mexesse em seu prato...
Ela possuia um jeito único de impor sua presença. Os cachorros a respeitavam.
Rata era travessa - e também muito amorosa. Seu nome se refere não apenas ao tamanho, como também a uma característica de sua personalidade que se sobressaía aos demais: o roubo.
Rata era ladra. Adorava pegar um chinelo esquecido sobre o tapete externo, ou deixado para trás em algum canto do pátio. Pior: além de ladra, ela invadia residências. Se a porta ficasse aberta - ainda que entre-aberta - ela não perdoaria. O que estivesse lá dentro e fôsse de seu interesse acabaria sob seus domínios.
Quando aprontava, cerrava os olhos, inclinava levemente a cabeça para baixo, como quem diz que sente muito, e desenhava, no canto do focinho, uma espécie de sorriso
uma espécie de carisma
que só ela tinha.
Tudo que nasce, nasce para um dia retornar de onde veio.
Rata se foi. Nesse plano, como tudo que é vivo, cessou. Cessou sendo a senha para outra vida. Na tarefa que a natureza lhe imcubiu como sina e privilégio: ser mãe.
Rata, nossa cadelinha. Pode ter ido, mas deixou muita, muita saudade.