sexta-feira, 10 de setembro de 2021

A arte como sublimação

 

Wittgenstein também leu Schopenhauer

Wittgenstein assume, com relação a (im)possibilidade da coisa-em-si (noumenon) ser objeto de conhecimento científico: 'I am aware of the complete unclarity of all these sentences' p.25. (...) ‘There are, indeed, things that cannot be put into words. They make themselves manifest. They are what is mystical¹.’ p.26

O curioso é que o filósofo austríaco adota, em referência ao assunto, a frase Latina usada por Espinosa: 'sup specie aertenitatis²'

Mais curioso ainda é notar que o 'cavaleiro solitário' havia, anos antes, aludido à  mesma frase, em sentido semelhante: "Também nela pensava Espinosa ao escrever: mens aeterna est, quatenus res sub aeternitatis specie concipit³' (Ética V, prop. 31, schol.) (Mundo como Vontade e Representação, Cap. III, p.30.)

Para ambos os autores é possível, a partir da contemplação artística, intuir a essência das coisas, i.e, as ideias eternas, mediante o esquecimento de si, o 'sublimar-se' a si mesmo como indivíduo.

O 'homem dos evangelhos' e o 'cavaleiro solitário', com divergências marcantes em seu pensamento e vida, chegaram às mesmas conclusões em suas investigações ontológicas: o prazer estético, que corresponde ao conhecimento intuitivo, transcende, i.e, se situa além dos limites do conhecimento científico; enquanto atemporal, por isso mesmo eterno, liberto de todas as relações fenomênicas que regem o mundo natural, ele é capaz de contemplar os objetos 'sup species aeternitatis'; por outro lado, a percepção a serviço da utilidade, revestida sob o manto da razão e da ciência, é, necessariamente, temporal, inevitavelmente agrilhoada aos objetos e suas relações.

¹ Eu estou ciente da completa falta de clareza de todas essas sentenças. Existem, de fato, coisas que não podem ser postas em palavras. Elas fazem a si mesmas manifestas. Elas são o que é místico.

² Sob a forma da eternidade.

³ O espírito é eterno enquanto apreende as coisas do ponto de vista da eternidade.

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