Wittgenstein
também leu Schopenhauer
Wittgenstein
assume, com relação a (im)possibilidade da coisa-em-si (noumenon) ser objeto de
conhecimento científico: 'I am aware of the complete unclarity of all these
sentences' p.25. (...) ‘There are, indeed, things that cannot be put into
words. They make themselves manifest. They are what is mystical¹.’ p.26
O curioso
é que o filósofo austríaco adota, em referência ao assunto, a frase Latina
usada por Espinosa: 'sup specie aertenitatis²'
Mais
curioso ainda é notar que o 'cavaleiro solitário' havia, anos antes, aludido à mesma frase, em sentido semelhante: "Também nela pensava
Espinosa ao escrever: mens aeterna est, quatenus res sub aeternitatis
specie concipit³' (Ética V, prop. 31, schol.) (Mundo como Vontade e
Representação, Cap. III, p.30.)
Para ambos
os autores é possível, a partir da contemplação artística, intuir a essência
das coisas, i.e, as ideias eternas, mediante o esquecimento de si, o
'sublimar-se' a si mesmo como indivíduo.
O 'homem
dos evangelhos' e o 'cavaleiro solitário', com divergências marcantes em seu
pensamento e vida, chegaram às mesmas conclusões em suas investigações
ontológicas: o prazer estético, que corresponde ao conhecimento intuitivo,
transcende, i.e, se situa além dos limites do conhecimento científico; enquanto
atemporal, por isso mesmo eterno, liberto de todas as relações fenomênicas que
regem o mundo natural, ele é capaz de contemplar os objetos 'sup species
aeternitatis'; por outro lado, a percepção a serviço da utilidade, revestida
sob o manto da razão e da ciência, é, necessariamente, temporal,
inevitavelmente agrilhoada aos objetos e suas relações.
¹ Eu estou
ciente da completa falta de clareza de todas essas sentenças. Existem, de fato,
coisas que não podem ser postas em palavras. Elas fazem a si mesmas manifestas.
Elas são o que é místico.
² Sob a
forma da eternidade.
³ O
espírito é eterno enquanto apreende as coisas do ponto de vista da eternidade.
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