sábado, 9 de setembro de 2017

Avenida Paulista

É preciso ter muita coragem
pra enfrentar de frente
a sua face
entende?
a sua face simbólica
Angelical
Mítica
a face que me defronta
todo dia
como um espelho.

Eu,
amante de tu
não amante de mim
penso,
meu deus,
como fazer poesia e dizer essas coisas absurdas?
se no fundo sou apenas um pequeno grão de areia em meio ao deserto
nesse imenso deserto de uma vasta paisagem.
mas ora
o que é a poesia se não algo absurdo
aliás, a cara do absurdo
o absurdo em pessoa!

Eu,
amante de tu
não amante de mim
começarei a me amar por ti
sei lá por que não sei mesmo
a bebida me dribla as sílabas e eu só penso em me livrar dessa dor
ao som dessa música e no ritmo de meus dedos
eu extravaso todo o pus  que existe no meu peito
por que se tu lidas da sua dor dessa forma
eu lido da minha desta: eu escrevo
e escrevo com tesão, com vontade de te ferir
com vontade de te amar, de te acalentar
ferir-te para curar-te para mostrar o meu valor
para mostrar que posso servir a algo
que não sou nada
que nunce serei nada
que não possso querer ser  nada
e não basta citar Fernando Pessoa
é preciso também ter coragem
de nunca querer te mostrar esse poema
essa declaração de amor que guardo secretamente
no amago da minha vergonha
no fundo da minha alma
eu a guardo,
pois sei que contemplá-la é saber
que também que não sei do que falo
que no fundo te amo e tudo isso é inútil
tudo isso passará
que no fundo tudo isso é o que há
o presente e este momento que não capto por completo
talvez por desconhecer o completo
talvez por que não a conheça por completo
mas como eu gostaria de conhecer-te por completo
e divulgar seu corpo através do meu
como
um outdoor exorbitante na Avenida Paulista


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