sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Não há verdade que salve o homem do amar.
A verdade é que o amar é uma prática diária,
e deve ser velada silenciosamente,
no interior de nossa alma;
e não há argumentos que nos aliviem
dos excessos que brotam nas chuvas
e dos rios que correm em nossos corações.

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Satolep chove

O céu ruge como um cão faminto.
Um clarão corta o céu estremecendo os vidros
das janelas impávidas
dos edifícios azulados
pelo frio e pela chuva Pelotense.

A hodierna tarefa de ir de um lado ao outro da rua
transfigurou-se em cenário de filme de aventura
com direito a salto a distancia entre pontos secos
escorregões por sapatos mal situados
gargalhadas estrondosas dos amigos desgraçados
e por aí desliza-se...

O descaso aliado a ignorancia
calaram a boca dos bueiros com folhetins eleitorais,
caixas de remédios, promessas futuras;
gerando um rio que nasce
da calçada de minha casa
até a porta de Dona Lúcia

Não bastasse este ser apenas uma entre as várias ruas
que se encontram submersas em períodos chuvosos
há também que se atentar ao fato de que diariamente
mais e mais ruas sofrem o risco de terem suas vozes abafadas
pelo asfalto
da cobiça

sábado, 9 de setembro de 2017

Avenida Paulista

É preciso ter muita coragem
pra enfrentar de frente
a sua face
entende?
a sua face simbólica
Angelical
Mítica
a face que me defronta
todo dia
como um espelho.

Eu,
amante de tu
não amante de mim
penso,
meu deus,
como fazer poesia e dizer essas coisas absurdas?
se no fundo sou apenas um pequeno grão de areia em meio ao deserto
nesse imenso deserto de uma vasta paisagem.
mas ora
o que é a poesia se não algo absurdo
aliás, a cara do absurdo
o absurdo em pessoa!

Eu,
amante de tu
não amante de mim
começarei a me amar por ti
sei lá por que não sei mesmo
a bebida me dribla as sílabas e eu só penso em me livrar dessa dor
ao som dessa música e no ritmo de meus dedos
eu extravaso todo o pus  que existe no meu peito
por que se tu lidas da sua dor dessa forma
eu lido da minha desta: eu escrevo
e escrevo com tesão, com vontade de te ferir
com vontade de te amar, de te acalentar
ferir-te para curar-te para mostrar o meu valor
para mostrar que posso servir a algo
que não sou nada
que nunce serei nada
que não possso querer ser  nada
e não basta citar Fernando Pessoa
é preciso também ter coragem
de nunca querer te mostrar esse poema
essa declaração de amor que guardo secretamente
no amago da minha vergonha
no fundo da minha alma
eu a guardo,
pois sei que contemplá-la é saber
que também que não sei do que falo
que no fundo te amo e tudo isso é inútil
tudo isso passará
que no fundo tudo isso é o que há
o presente e este momento que não capto por completo
talvez por desconhecer o completo
talvez por que não a conheça por completo
mas como eu gostaria de conhecer-te por completo
e divulgar seu corpo através do meu
como
um outdoor exorbitante na Avenida Paulista


Como podem os pássaros, semeadores do ar, conhecer-te tão bem?
Não é de hoje que escuto eles te chamando do lado de fora do meu quarto, inutilmente clamando teu nome em pios, um hino melancólico que parece ser dirigido a minha pessoa. É inacreditável. Que pacto terá feito tu com estes seres maravilhosos e com toda a natureza, pois que quando me ponho a regar as plantas vejo em tuas folhas marcas que remontam a tua pessoa, e lá estou eu de novo a pensar em como poderia ser diferente, quando a água cai sobre o meu pé e sou lançado novamente a terra, o vaso todo inundado, a mente ofuscada e o peito vazio. Que pacto terá feito tu com as estrelas? Pois que quando me ponho a olhar o céu não consigo pensar noutra coisa senão no desejo ardente de consumi-la por completo, até que não reste dúvidas, até que não reste fome, até que não reste nada. Além de nós.

Ferro

Sorvo minha angústia
aparato moderno

camuflo minha dor
gestos hodierno

me produzo no escuro
nada é eterno

a noite é uma sombra
e voce veste terno.

no chão
um ser se abriga
e a mão que afaga
é de ferro.

no chão
um corpo cai
e a mão que o salva
é de ferro.

na rua
o povo grita
e a resposta dada?
ferro.

o preço que cobram pela vida
é menor que o preço do terno
voce, a vida, o terno
também são de ferro?

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Meu coração é uma folha em branco

Não te escrevo este poema
para que lembres de mim
escrevo-te para que esqueças
esqueças que te amei imensuravelmente
e que ainda te amo.

Não te escrevo este poema
por que estou morto de saudade
escrevo pois sei que o que me espera é a ausencia
e a única forma de sanar essa dor é indo até o fim.

Não te escrevo este poema
na esperança de que um dia voce o leia
escrevo para que tu nunca o visualizes
e permanecendo oculto lhe diga o que nunca consegui...

Não te escrevo este poema...
eu apenas o publico...

pois foi voce quem o escreveu em mim.

natureza da realidade

Tu vivente de tudo que há
eu vivente daquilo que sou
trago comigo a lembrança secreta
daquilo que nos restou

Ando sozinho à sombra da rua
imaginando sua presença numa esquina qualquer
e de repente te vejo, meu coração dispara
mas espera: era uma outra mulher.

E quando te alcanço, por fim, não desejo
não desejo mais ver-te, tão somente.
pois o beijo que no fundo almejo
existe somente em minha mente

Na despedida lhe digo doído
um adeus, até logo, amigo.
no fundo eu queria levar-te comigo
no fundo eu queria levar-te comigo...


sexta-feira, 24 de março de 2017

Que magia é essa que te afoga
incauta, desmedida, afora
do tempo, de si, da dor, do agora
e te compõe em versos de inquietude?

Que corpo é esse que te aprisiona
entre o vão do desejo e da aurora
encontrarás finalmente liberdade
quando libertar-se do Eu, outrora?

Que palavras são essas que te compõe
serão súplicas de apelo ao implacável destino?
Que farás comigo, ó terra, quando em desatino
pôr-me a clamar por mais um pouquinho de amor?

Permitirás que eu volte, desfrutando
da brisa gostosa que em tuas vestes abracei
ou me dirás que nesse plano, a partir de agora,
retornarei ao menino que um dia deixei...