terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

ODE ÀS PEQUENAS COISAS

Serão erguidos versos daquilo que é incomunicável:
a luz do sol refletindo na janela do teu quarto
o desenho das tuas curvas de ouro
o aroma preto pela manhã
e você me acordando: "queres café?"
o barulho do ventilador
o andar cauteloso
o piso com suas imperfeições
o teto, que faz chover pó
e voce dizendo: "me ajuda a limpar?"
o cuidado em manter a porta fechada
a chuva, e o cheiro de terra molhada,
as vestimentas que desaparecem misteriosamente
e o encontro, no centro do pátio ou numa casinha de cachorro,
das roupas rasgadas; os focinhos escondidos
e voce indagando alto: "quem foi!?"
a Rata omissa
a Puma dissimulada
a Maria carente
o Bryan acrobata
eu entrando distraído
o Django aproveitando a deixa
e voce proferindo tarde: "cuidado com os cach..."
o portão que corre pesado
a chave, o esquecimento, os pulos secretos
tua mãe te gritando através da quadra
o pôr-do-sol de cima do telhado
o fim de tarde no inverno gélido
a mescla de cores, a aurora,
e voce me perguntando: "fecha um pra nós?"
a insistência em dormir sempre do mesmo lado da cama
a permanente tarefa de procurar o controle da TV
a fome no meio da madrugada
a preocupação
o cuidado
a simples companhia.

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