sábado, 13 de maio de 2023

tornar o amor uma casa

erguê-lo como se ergue um lugar, abrigar-se nele

entrar dentro do amor

refugiar-se em suas trincheiras como

os que vêm feridos de morte

os que de súbito entendem que viver é breve ─

mas amar é longo

torná-lo tua mão que alcança a minha

a volta a um primeiro ato

de misericórdia

o sangue marcando as ombreiras de nossas portas

tornar o amor um esconderijo de infância

uma fresta na madeira

uma luz tênue

uma ave

tornar o amor uma casa; torná-lo

uma asa

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mar becker

em: um dos poemas da seção final de "sal", 2021/22

Depressão

Esse excesso de sentir

me consome

eu não me pertenço mais


no escuro do mundo

minha voz se esconde

um grito abafado

atravessa a noite

no espelho um vulto -

irreconhecível

uma identidade -

fragmentada

onde será que errei

se é que errei

e quando errei?

foi por amar demais

as coisas pérfidas

ou por não saber amar

as coisas simples?

foi por excesso de sentir

ou por excesso de pensar?

estou em busca de mim

nas portas do universo...
.

Eu

Eu não me pertenço mais.