''Quando o recanto mais remoto do globo tiver sido
conquistado pela técnica e explorado pela economia, quando um qualquer
acontecimento se tiver tornado acessível em qualquer lugar a qualquer hora e
com uma rapidez qualquer, quando se puder “viver” simultaneamente um atentado a
um rei na França e um concerto sinfônico em Tóquio, quando o tempo for apenas
rapidez, momentaneidade e simultaneidade e o tempo enquanto História tiver de
todo desaparecido da existência de todos os povos, quando o pugilista for
considerado o grande homem de um povo, quando os milhões de manifestantes
constituírem um triunfo – então, mesmo então continuará a pairar e estender-se,
como um fantasma sobre toda esta maldição, a questão: para quê? – para onde? –
e depois, o que? O declínio espiritual da terra está tão avançado que os
povos ameaçam perder a sua última força espiritual que [no que concerne o
destino do “Ser”] permite sequer ver e avaliar o declínio como tal. Esta
simples constatação nada tem a ver com um pessimismo cultural, nem tão-pouco,
como é óbvio, com um otimismo; pois o obscurecimento do mundo, a fuga dos
deuses, a destruição da terra, a massificação do homem, a suspeita odienta
contra tudo que é criador e livre, atingiu, em toda a terra, proporções tais
que categorias tão infantis como pessimismo e otimismo já há muito se tornaram
ridículas''
segunda-feira, 23 de agosto de 2021
"Introdução à Metafísica", M. Heidegger, 1935
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