domingo, 26 de janeiro de 2020

Não posso dizer precisamente quando tudo começou, sobretudo por que quando nos encontramos nesses estados emocionais tumultuosos é difícil lembrar-se de tudo com clareza. Posso dizer que de alguma forma esse ano de 2020 despertou em mim o senso da passagem do tempo, exato quase oito anos em que saí de casa, exato quase oito anos em que fui privado de alguma forma de compartilhar o crescimento de meu pequeno irmão, Matheus, cujas feições e características mudam tanto a cada ano...Quanto tempo demorará até que não mais me abraçe, ou não mais se quer me chame de irmão? Oito anos em que a passagem do tempo (parece) não me somaram nada, neste momento, da forma como me sinto, oito anos perdidos. Mas, olhando pra trás, nesses oito anos, tanta coisa aconteceu. Tantas pessoas, tantas experiencias, tantos momentos mágicos e difíceis, mas no entanto necessários, me forjaram e me tornaram o que sou? É preciso agradecer, sim, pois somos livres. Livres para errar e acertar nesse mundo fantasioso a que chamamos realidade. Livres para sofrer e parar nos comprazer nos diversos momentos de nossa existência. Livres, enfim, para sermos aquilo que quisermos, por mais absurdo que isso soe.

 Posso dizer que os ultimos dias que sucederam minha partida foram de uma dureza, de um certo tipo de amargura ímpar, nunca antes sentida por mim naquelas circunstancias e com tamanha intensidade. Eu me comovia diante dos cômodos e de suas lembranças, dos objetos e dos sentimentos que os acompanhavam, e me via revestido emocionalmente de um mundo que eu sentia ser mais meu do que qualquer outro. A obrigação nunca antes exigida de zelar por aqueles que amo fora internalizada e no âmago do meu ser eu sabia o que devia ser feito.